sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Amenidades e a dor da perda

É engraçado como as pessoas se comportam num velório. No começo a tristeza, os pêsames, o silêncio e o choro. Então as conversas amenas, entremeadas pelas lembranças do morto, que geram até risos, e às vezes mais choro. No geral, resta o silêncio e as conversas superficiais, para evitar as conversas que apertam o peito.
Os almoços de todo dia acabam me parecendo velórios. Talvez o morto esteja no prato. Ou em nós. As conversas, enfim, são muito semelhantes. As lembranças, risos e pequenas tristezas se resumem a amenidades, conversadas entre pessoas que você vê e fala todos os dias, mas que nunca conhecerá realmente. Conhecerá apenas suas amenidades: o tempo, a eleição, o serviço, como vai, tudo bem.
As conversas que envolvem o velório ainda tem a intenção de amenizar a dor, desviar o olhar do corpo sem vida que resta no centro da sala. No almoço, amenizamos a vida e o tédio cotidiano. O cadáver não está apenas no prato. O cadáver amarelado e sem vida somos nós mesmos. Talvez o calar possa resolver nossos conflitos internos, quiçá o próprio tédio. Porém, continuaremos a amenizar a dor ou nos confrontaremos enfim com a dor da perda de nós?

ps: Esse texto foi escrito há 2 meses atrás, quando do falecimento do meu tioavô Odail. Foi uma perda muito grande, que abalou muito minha família. Anteontem, faleceu o Presidente da Copel, Ronald Ravedutti, em um acidente de carro, e o abalo foi ainda maior, devido às proporções e circunstâncias. Agora vejo muita gente aqui ainda fora de órbita, e me pergunto até quando essa sensação de não saber o que fazer tomará conta de todos.

Um comentário:

  1. Quando saio para almoçar com alguém do trabalho e não tenho tanta proximidade com a pessoa, as conversas normalmente giram em torno do futebol ou então as pessoas simplesmente falam para não parecerem tristes... mas, assim sendo, percebo suas tristezas... Belo texto.

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