quarta-feira, 26 de maio de 2010

A Sapiência do Verme

Pegando carona com a mamãe hoje de manhã, percebi um olhar de decepção com a vida. Decepção não, mas de saco cheio mesmo. Saco cheio por fazer tanto, estudar tanto (agora já estou me colocando junto no sentimento) querendo aprender mais todos os dias, pra quem sabe provar pra alguém (que pode ser você mesmo) que é capaz de fazer alguma coisa, e que é realmente bom nisso! Aí chega alguém e diz "ah, ela tá fazendo um curso.", quando na verdade você está fazendo mestrado, e é a primeira da família a se aventurar (ou atolar, escolha o verbo que achar melhor) nessa. Você fica brabo, tem vontade de chegar e esfregar o diploma na cara de todo mundo, mas se segura e pensa de novo: mesmo com ninguém sabendo que você faz mestrado, você continua tendo o conhecimento*, e é isso que importa.
*Diria que é a mesma idéia de "se eu faço alguma coisa sem ninguém saber, ela realmente acontece?"
Minha linha de pensamento, porém, não termina no "é isso que importa". Se fosse só isso, e tudo que a gente aprendesse e fizesse na vida servisse mesmo pra alguma coisa, assim, garantido mesmo, tava bom. Só que não tá garantido, afinal a gente não tem certeza absoluta de pra onde vai toda a experiência dessa vida, nem pra onde vamos. Talvez a gente guarde esse conhecimento pra levar pra outra vida, como consideram algumas linhas filosóficas espirituais. Talvez a gente só leve as experiências pra usar no paraíso, ou no inferno, depende. Talvez não guarde nada e volte na próxima como um louvadeus, que não entende nada de música, filosofia ou direito administrativo, e nem precisa entender. Ou não volte pra lugar nenhum, e seu cérebro - que a princípio guarda todas essas experiências, conhecimentos e personalidade - seja apenas devorado pelos vermes. Devorado sem intenções de obter todo o conhecimento e técnica do devorado, como algumas tribos canibais fazem. Devorar pelo simples instinto de se alimentar, de comer, transformar em energia (pra comer mais) e expelir. O verme que devorar as suas frias carnes provavelmente arrotará sua sapiência (idéia genial de minha genial mãe!). Pronto, anos de estudo, noites em claro, cabelos brancos, olheiras, pra no final virar um arroto de um verme minúsculo, arroto esse que nem sequer será ouvido! Ou cheirado. Um arroto debaixo da terra, é isso que a sua graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado vai se tornar.
Conselho do verme: aproveite seu conhecimento enquanto vive, pois inclusive os seus livros virarão arrotos de traças.

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