segunda-feira, 17 de maio de 2010

Da pá virada cultural

Esse fim de semana (15 e 16 de maio), eu e o Gui estivemos em Sampa, pra expêriencia mais maluca de show de rua que já vivenciei: a Virada Cultural. São 24 horas ininterruptas de cultura em todo o canto da cidade de São Paulo: música, dança, circo, insetos gigantes, starwars e tudo mais. Descrever tudo o que passamos lá seria me estender demais para um veículo de comunicação rápido como um blog, por isso contarei do show principal, o q realmente me levou até lá mesmo, o resto veio de brinde: Tatit, Wisnik, Nestrovski e Banda.
Estou fazendo mestrado em música, e o tema da minha dissertação é o trabalho musical de Luiz Tatit. Tatit criou uma maneira peculiar de cantar, voltada à entonação da voz falada. Essa característica é encontrada na canção brasileira, especialmente nos sambas do início do século passado (Noel, Lamartine). Através das entonações da fala (prosódia), Luiz Tatit cria linhas melódicas, e essa proximidade com a fala é o q dá o tom de naturalidade ao canto, e de proximidade do cantor/compositor com o público*. Tatit, acompanhado pelo Grupo Rumo ("nascido em 74 com uma história singular..."), estudou a fundo esses sambistas do início do século, para então criar esse novo "estilo" de composição, que ficou marcado na década de 80, dentro do movimento (des)conhecido como Vanguarda Paulista, que também envolveu artistas como Itamar Assumpção, PREMÊ, Lingua de Trapo e Arrigo Barnabé (afinal, Londrina tbm é um pouco São Paulo).
*Pra entender, lembre/escute canções com um caráter mais operístico e perceba o distanciamento da música e a realidade cotidiana. Lieds eruditos, ou mesmo modinhas, com aquele timbre e melodias abusando de extremos agudos e linguajar rebuscado, tão rebuscado, e tão operístico, q mesmo sendo cantado em português vc não entende.

Uma loooonga explicação de Luiz Tatit, de onde veio, pra onde vai, pra chegar no show de ontem: estava marcado para começar às 11h, mas começou mais de meio-dia, devido a enroscos na passagem de som, tanto que os próprios músicos acharam q a qualquer momento iam levar uma tomatada. O palco ficava na Boulevard São João, e sinceramente, acho q atrasaram de propósito, esperando a sombra chegar no palco tbm, hehehe. Fora uns bêbados q ficavam xingando e discutindo no meio do show, foi tudo lindo. No palco, nem sequer uma mosca que não tocasse MUITO bem. Canções em parceria, diversas combinações de músicos bons escrevendo música boa. O cantor Celso Sim me surpreendeu com sua presença de palco. Wisnik, que eu também nunca tinha visto de perto, tem uma naturalidade em palco que eu queria ter mais, parece até que ele nasceu ali em cima. Tatit, um pouco tímido, cantou poucas canções, mas em todas conseguiu tirar risos do público, especialmente em "Essa é pra acabar", tão perfeita pro bis. A banda toda estava mto em sintonia, apesar das confusões da passagem de som e tudo mais. E eles conseguiram passar essa harmonia pra gente. Em certos intervalos entre uma música e outra, não se ouvia uma palavra na Boulevard, todos ansiosamente esperando a próxima, inertes pela música.
Além do som fantástico, em certos momentos o guindaste localizado atrás do palco içava artistas circenses fazendo acrobacias, e ao lado do palco um grande balão também levantava os malabaristas lá no alto.
Ao terminar o show, me pendurei na grade ao lado do camarim dos músicos e fiquei esperando a oportunidade de falar com alguém, especialmente o Tatit (tinha mandado um email pra ele falando do meu trabalho, q ele respondeu com mta simpatia). O Wisnik conversou com a gente, que cara especial! Sergio Reze, o percussionista simpático, ficou de papo com a gente por um bom tempo, e só depois consegui conversar com o Tatit, que na hora também conversava com a Zélia Duncan. Fiquei extremamente ansiosa, falamos pouco, mas combinamos de mais pra frente nos encontrarmos para conversar sobre a dissertação. Pra mim foi suficiente, eu conheci, ele agora me conhece e existe o elo. Sai meio atarantada andando de mão dada com o Gui, q parecia tão ou mais feliz que eu. Deu uns 100m, comecei a chorar de nervoso. Nunca tinha me acontecido algo assim, só qdo entrei em alguma briga feia.
Essa pesquisa é realmente importante pra mim, e estou disposta a estudar muito, mas muito mesmo pra torná-la real, bem do jeitinho que imaginei. E daqui a pouco chego no meio dessa maluquice de estudar pesquisar musicar...como já diria o próprio Tatit:
É bom demais tar no meio
o meio é seguro pra gente cantar
primeiro, acaba o receio
e até o q era feio começa a soar
depois, todo aquele receio
partindo do meio podia evitar
até pras crianças nascerem
nascendo no meio, não iam chorar

Um comentário:

  1. guria! que massa que vc conheceu o Tatit! que massa mesmo! e ainda vai ficar em contato com ele para fazer seu trabalho... muito massa!

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