Ontem foi um dia "daqueles". Na verdade, começou anteontem, segunda-feira. Voltei mais tarde que o normal do mestrado (uma pequena fuga - quem sabe um fugatto - das obrigações que, desde terça-feira passada, eu já sabia que existiam). Jantei e avisei em casa: "hoje não lavarei a louça. Tenho uma obra a compor." A reação do meu irmão foi continuar assistindo TV. Minha mãe perguntou apenas se eu precisava de alguma coisa. Disse que não, mas sim, precisava de paciência, e persistência.
Ao subir as escadas com minha ferramenta de trabalho nos braços - um notebook, já que a fonte do teclado estragou, a composição teria que sair apenas com meu ouvido interno e o MIDI do Finale - sentia um peso imenso de culpa e falta de comprometimento. Porém, sim, eu escolhi dormir às 21h30 na sexta, acordar 10h30 no sábado - sabendo do casamento à tarde, almoçar na vó no domingo e sair com minha mãe, ficando fora até 20h30. Eu podia ter me organizado, mas deixei a coisa fluir, e ficou pra última hora. Não adiantaria reclamar do que passou, afinal já foi. Precisava focar no presente, naquela composição que nasceria naquele momento.
É importante explicar qual a proposta da composição. Se fosse uma obra tonal, com cadências tonais, tonalidades fixas, ou pouco variantes, creio que seria ligeiramente mais fácil. A proposta era, porém, um tanto mais complexa. Observe que não estou tentando fazê-lo sentir dó de mim, apenas acredito na importância do seu conhecimento quanto ao que eu, às 22h30 de uma segunda-feira, iria começar a produzir.
Messiaen é um compositor francês, que durante o período que esteve preso num campo de concentração, compos o Quarteto para o Fim dos Tempos (Quartet pour le fin du temps). A obra é formada por 8 movimentos, com títulos e características fortemente ligadas ao Apocalipse da Bíblia: trombetas dos anjos que anunciam o fim dos tempos, Jesus e toda a galera que aparece pra anunciar o fim do mundo. Como instrumentação, ele utilizou violino (que no primeiro movimento representa um pássaro* mais pra alegre que triste - não seria um urubu ou outro de mal agouro), clarinete (o pássaro negro, que no movimento Abîme des oiseaux faz um longo solo pendente e mortal, como num cemitério de elefantes - ou pelo menos como eu imagino que deva ser o canto em um cemitério de elefantes), violoncelo e piano.
*também tem isso, Messiaen tem um trabalho muito interessante voltado a composições ornitologísticas - o Catálogo de Pássaros - mas que, pra leigos especialmente, não é nada parecido com o canto dos pássaros
A idéia é, como também fez o compositor japonês Toru Takemitsu, compor uma obra-resposta ao quarteto de Messiaen, usando idéias e técnicas similares de composição: modos criados por Messiaen: escalas de tons inteiros, tom - semitom, tom - terça maior - semi tom, e assim por diante; ritmos não-retrogradáveis - influência dos raghas indianos, gerando uma espécie de "perda" do tempo musical, perda de noção do tempo; texturas e cores, além da mesma instrumentação. Isso gera algo no mínimo complexo para qualquer ouvido, mas belo e profundo pra quem souber/quiser escutar - procure "Messiaen quartet pour le fin du temps" no youtube, e escute pra confirmar minhas posições.
No domingo tinha escrito algumas idéias para a flauta (pois é, tem isso também, por falta de músicos, a instrumentação poderia ser alterada), que lembravam o pássaro do violino de Messiaen. Na segunda à tarde, quando deu uma folga no trabalho, li vários textos sobre a obra de Messiaen, e descobri que ele estudou com profundidade o ritmo indiano, sequências rítmicas que eles chamam de Raghas, e que inclusive usou alguns desses raghas no primeiro movimento do quarteto. Da mesma forma, li sobre os modos utilizados para a composição do quarteto e os acordes que ele criava para o piano à partir desses modos:acorde de tônica, de dominante e o acorde de ressonância, que em linguagem popular, seria um acorde maior com 7ª maior, menor, nona, décima primeira aumentada e décima terceira diminuta - que aproximando as notas, gera um belo cluster - uma nota grudadinha na outra. Interessante que, se "traduzirmos" a linguagem dos eruditos para o popular, não temos mais que um acorde bem comum nas músicas do Hermeto.
Comecei a escrever, então, direto no Finale, que meu anjo-amigo Rafael passou, e eis que começaram os apertos: não sabia como dar play na partitura sem ela tocar desde o início. Paciência, escutei o começo umas 20 vezes. Além disso, me bati com mais umas 50 coisas do programa: como mudar a nota de lugar, como apagar só uma nota e não o acorde todo, como colocar sinais de dinâmica - crescendo e diminuindo, etc, etc. Algumas coisas eu descobri, depois de bater a cabeça na parede várias vezes. Outras, continuam uma incógnita. Lá pelas tantas, depois de escrever o que me parecia ser a primeira parte da obra (que deve ter entre 3 e 5 minutos), uma pseudo-introdução, com o pássaro da flauta, o piano parecendo um sino de igreja no meio de uma madrugada escura, e o clarinete como um pássaro agourento - uma "paisagem sonora" que me levou a Sampa Midnight, do Itamar Assumpção, só faltaram os ETs, salvei o projeto. Aí fui pra parte que usaria os raghas indianos, e fiz uma melodia muito legal na flauta, com aquele tempo-fora-tempo-dentro do ragha, e coloquei em uníssono com os outros instrumentos. Me lembrava muito uma série dodecafônica, mais pelo ritmo intenso, o uníssono e a mudança de notas que por ser realmente uma série - algumas notas se repetiam, e a idéia não era ser dodecafônico nessa composição. Voltei e corrigi outros acordes, agora já finalizando o que apresentaria na terça à noite na aula, e com a bunda doendo de tanto tempo sentada na mesma posição.
Tinha gostado do resultado, e de repente, acontece aquilo q sempre acontece qdo a gente se empolga com o trabalho: erro no programa, fecha tudo e não salva nada. Oh! fim dos tempos! o anjo da trombeta dourada (poderia ser Rafael) avisa em tom grave: só Deus salva!! E é isso mesmo, só Deus, porque dessa vez nem o vista salvou. E metade da composição se perdeu nas profundezas das memórias escondidas do meu HD.
E agora vem a surpresa: imaginaria-se uma reação de desespero, às 2h da manhã já do outro dia, um grito de horror, ou pelo menos afundar a cabeça no travesseiro e chorar, com raiva: nada disso ocorreu. Simplesmente olhei que o programa realmente não tinha salvo tudo, vi o que restava do trabalho, salvei e desliguei o computador. Assim, sem qualquer reação tresloucada ou uma cena de filme com mulheres na TPM. Simplesmente não senti nada: nem raiva, nem tristeza, só aquele cansaço que já estava comigo desde o fim da tarde. Estranhei aquela reação, que não seria minha se não tivesse acabado de acontecer. Geralmente, sou mais passional. Subi até o quarto da minha mãe, pra dividir com ela o acontecimento dos últimos minutos, e talvez incentivar em mim o sentimento de alguma coisa. Nada. Mais que isso: eu estava até feliz, talvez feliz por poder dormir finalmente, ou por tomar banho e escovar os dentes. Apesar que já sabia que teria que acordar dali algumas horas pra tentar fazer alguma coisa, ou que teria que dar um jeito de escrever durante o trabalho, resumindo, sabia que minha terça-feira seria mais atolada que o normal.
Como eu não sou de funcionar às 5 da manhã, acabei deixando pra continuar a composição aqui no trabalho - por sorte, estava com pouco serviço, e acabei "terminando" uma outra idéia ainda de manhã. Confesso que ficou piorzinha do que o que tinha escrito da primeira vez, o q não consegui mais lembrar de jeito nenhum. Enfim, era alguma coisa, apesar de eu ter a sensação de que ouviria várias novas idéias pra dar continuidade ao projeto inicial. À noite fui pra aula, e deixei que meus dois outros colegas apresentassem antes de mim: um que estava mais animado em mostrar o q fez, outro q teria uma apresentação pra fazer dali uma hora. No fim, esse segundo rapaz demorou muito mais que o esperado - discutimos, vimos a apresentação dele, voltamos a discutir mais - e, lógico, não deu tempo de eu apresentar minha composição. E seria muita sacanagem pedir pra galera ficar mais uns minutinhos, naquele tempinho chulé e àquela hora da noite. Resumindo, todo o esforço, as olheiras, a madrugada não salva, a cara de pau no trabalho, tudo poderia ter sido postergado para hoje, ou amanhã, ou até o fim de semana. E apesar disso tudo, de toda a dor no corpo que eu sentia - por ter carregado a sanfona pra lá e pra cá e da tensão que fiquei esperando a minha vez de mostrar meu trabalho - no fundo do peito, eu não sentia nada. Poderia ter me sentido besta, ter ficado com raiva de trabalhar tanto e correr tanto e ser desnecessário, ou poderia ter ficado feliz, já que era um novo prazo para compor algo melhor e mais trabalhado, mas não, eu não senti nada disso. Como não senti nada, escolhi o lado positivo de achar que "é bom ter mais um prazinho". E fiquei com isso, mas no fundo não sentindo nada pra valer. Talvez uma escolha do organismo em ficar alheio, em permanecer sereno no olho do furacão. Ou um simples "tanto faz" pra tudo, o que é bem pior. Mais que isso, me assustar por não ter a reação mais teatral, de berrar, chorar e ficar louca de raiva, e transparecer pras pessoas que na verdade eu fiquei de cara sim, pra que ninguém pense q eu sou louca e não senti que o esforço foi em vão. Quem diria! No fundo falso tenho uma Helena surpresa em não se apavorar. Na frente falsa, a Helena mostrando que fez um monte de coisa e "nossa! não deu certo, que droga!". E na realidade, não tem nada não, é só uma composição maluca pra uma aula, e que se não ficar boa o suficiente, não é q eu seja incapaz, mas que talvez eu não tenha me aplicado tanto. Só to assustada com essa música do Arnaldo Antunes tão real dentro de mim... "socorro alguém me dê um coração, que esse já não bate nem apanha, por favor, uma emoção pequena, qualquer coisa que se sinta".
Ao subir as escadas com minha ferramenta de trabalho nos braços - um notebook, já que a fonte do teclado estragou, a composição teria que sair apenas com meu ouvido interno e o MIDI do Finale - sentia um peso imenso de culpa e falta de comprometimento. Porém, sim, eu escolhi dormir às 21h30 na sexta, acordar 10h30 no sábado - sabendo do casamento à tarde, almoçar na vó no domingo e sair com minha mãe, ficando fora até 20h30. Eu podia ter me organizado, mas deixei a coisa fluir, e ficou pra última hora. Não adiantaria reclamar do que passou, afinal já foi. Precisava focar no presente, naquela composição que nasceria naquele momento.
É importante explicar qual a proposta da composição. Se fosse uma obra tonal, com cadências tonais, tonalidades fixas, ou pouco variantes, creio que seria ligeiramente mais fácil. A proposta era, porém, um tanto mais complexa. Observe que não estou tentando fazê-lo sentir dó de mim, apenas acredito na importância do seu conhecimento quanto ao que eu, às 22h30 de uma segunda-feira, iria começar a produzir.
Messiaen é um compositor francês, que durante o período que esteve preso num campo de concentração, compos o Quarteto para o Fim dos Tempos (Quartet pour le fin du temps). A obra é formada por 8 movimentos, com títulos e características fortemente ligadas ao Apocalipse da Bíblia: trombetas dos anjos que anunciam o fim dos tempos, Jesus e toda a galera que aparece pra anunciar o fim do mundo. Como instrumentação, ele utilizou violino (que no primeiro movimento representa um pássaro* mais pra alegre que triste - não seria um urubu ou outro de mal agouro), clarinete (o pássaro negro, que no movimento Abîme des oiseaux faz um longo solo pendente e mortal, como num cemitério de elefantes - ou pelo menos como eu imagino que deva ser o canto em um cemitério de elefantes), violoncelo e piano.
*também tem isso, Messiaen tem um trabalho muito interessante voltado a composições ornitologísticas - o Catálogo de Pássaros - mas que, pra leigos especialmente, não é nada parecido com o canto dos pássaros
A idéia é, como também fez o compositor japonês Toru Takemitsu, compor uma obra-resposta ao quarteto de Messiaen, usando idéias e técnicas similares de composição: modos criados por Messiaen: escalas de tons inteiros, tom - semitom, tom - terça maior - semi tom, e assim por diante; ritmos não-retrogradáveis - influência dos raghas indianos, gerando uma espécie de "perda" do tempo musical, perda de noção do tempo; texturas e cores, além da mesma instrumentação. Isso gera algo no mínimo complexo para qualquer ouvido, mas belo e profundo pra quem souber/quiser escutar - procure "Messiaen quartet pour le fin du temps" no youtube, e escute pra confirmar minhas posições.
No domingo tinha escrito algumas idéias para a flauta (pois é, tem isso também, por falta de músicos, a instrumentação poderia ser alterada), que lembravam o pássaro do violino de Messiaen. Na segunda à tarde, quando deu uma folga no trabalho, li vários textos sobre a obra de Messiaen, e descobri que ele estudou com profundidade o ritmo indiano, sequências rítmicas que eles chamam de Raghas, e que inclusive usou alguns desses raghas no primeiro movimento do quarteto. Da mesma forma, li sobre os modos utilizados para a composição do quarteto e os acordes que ele criava para o piano à partir desses modos:acorde de tônica, de dominante e o acorde de ressonância, que em linguagem popular, seria um acorde maior com 7ª maior, menor, nona, décima primeira aumentada e décima terceira diminuta - que aproximando as notas, gera um belo cluster - uma nota grudadinha na outra. Interessante que, se "traduzirmos" a linguagem dos eruditos para o popular, não temos mais que um acorde bem comum nas músicas do Hermeto.
Comecei a escrever, então, direto no Finale, que meu anjo-amigo Rafael passou, e eis que começaram os apertos: não sabia como dar play na partitura sem ela tocar desde o início. Paciência, escutei o começo umas 20 vezes. Além disso, me bati com mais umas 50 coisas do programa: como mudar a nota de lugar, como apagar só uma nota e não o acorde todo, como colocar sinais de dinâmica - crescendo e diminuindo, etc, etc. Algumas coisas eu descobri, depois de bater a cabeça na parede várias vezes. Outras, continuam uma incógnita. Lá pelas tantas, depois de escrever o que me parecia ser a primeira parte da obra (que deve ter entre 3 e 5 minutos), uma pseudo-introdução, com o pássaro da flauta, o piano parecendo um sino de igreja no meio de uma madrugada escura, e o clarinete como um pássaro agourento - uma "paisagem sonora" que me levou a Sampa Midnight, do Itamar Assumpção, só faltaram os ETs, salvei o projeto. Aí fui pra parte que usaria os raghas indianos, e fiz uma melodia muito legal na flauta, com aquele tempo-fora-tempo-dentro do ragha, e coloquei em uníssono com os outros instrumentos. Me lembrava muito uma série dodecafônica, mais pelo ritmo intenso, o uníssono e a mudança de notas que por ser realmente uma série - algumas notas se repetiam, e a idéia não era ser dodecafônico nessa composição. Voltei e corrigi outros acordes, agora já finalizando o que apresentaria na terça à noite na aula, e com a bunda doendo de tanto tempo sentada na mesma posição.
Tinha gostado do resultado, e de repente, acontece aquilo q sempre acontece qdo a gente se empolga com o trabalho: erro no programa, fecha tudo e não salva nada. Oh! fim dos tempos! o anjo da trombeta dourada (poderia ser Rafael) avisa em tom grave: só Deus salva!! E é isso mesmo, só Deus, porque dessa vez nem o vista salvou. E metade da composição se perdeu nas profundezas das memórias escondidas do meu HD.
E agora vem a surpresa: imaginaria-se uma reação de desespero, às 2h da manhã já do outro dia, um grito de horror, ou pelo menos afundar a cabeça no travesseiro e chorar, com raiva: nada disso ocorreu. Simplesmente olhei que o programa realmente não tinha salvo tudo, vi o que restava do trabalho, salvei e desliguei o computador. Assim, sem qualquer reação tresloucada ou uma cena de filme com mulheres na TPM. Simplesmente não senti nada: nem raiva, nem tristeza, só aquele cansaço que já estava comigo desde o fim da tarde. Estranhei aquela reação, que não seria minha se não tivesse acabado de acontecer. Geralmente, sou mais passional. Subi até o quarto da minha mãe, pra dividir com ela o acontecimento dos últimos minutos, e talvez incentivar em mim o sentimento de alguma coisa. Nada. Mais que isso: eu estava até feliz, talvez feliz por poder dormir finalmente, ou por tomar banho e escovar os dentes. Apesar que já sabia que teria que acordar dali algumas horas pra tentar fazer alguma coisa, ou que teria que dar um jeito de escrever durante o trabalho, resumindo, sabia que minha terça-feira seria mais atolada que o normal.
Como eu não sou de funcionar às 5 da manhã, acabei deixando pra continuar a composição aqui no trabalho - por sorte, estava com pouco serviço, e acabei "terminando" uma outra idéia ainda de manhã. Confesso que ficou piorzinha do que o que tinha escrito da primeira vez, o q não consegui mais lembrar de jeito nenhum. Enfim, era alguma coisa, apesar de eu ter a sensação de que ouviria várias novas idéias pra dar continuidade ao projeto inicial. À noite fui pra aula, e deixei que meus dois outros colegas apresentassem antes de mim: um que estava mais animado em mostrar o q fez, outro q teria uma apresentação pra fazer dali uma hora. No fim, esse segundo rapaz demorou muito mais que o esperado - discutimos, vimos a apresentação dele, voltamos a discutir mais - e, lógico, não deu tempo de eu apresentar minha composição. E seria muita sacanagem pedir pra galera ficar mais uns minutinhos, naquele tempinho chulé e àquela hora da noite. Resumindo, todo o esforço, as olheiras, a madrugada não salva, a cara de pau no trabalho, tudo poderia ter sido postergado para hoje, ou amanhã, ou até o fim de semana. E apesar disso tudo, de toda a dor no corpo que eu sentia - por ter carregado a sanfona pra lá e pra cá e da tensão que fiquei esperando a minha vez de mostrar meu trabalho - no fundo do peito, eu não sentia nada. Poderia ter me sentido besta, ter ficado com raiva de trabalhar tanto e correr tanto e ser desnecessário, ou poderia ter ficado feliz, já que era um novo prazo para compor algo melhor e mais trabalhado, mas não, eu não senti nada disso. Como não senti nada, escolhi o lado positivo de achar que "é bom ter mais um prazinho". E fiquei com isso, mas no fundo não sentindo nada pra valer. Talvez uma escolha do organismo em ficar alheio, em permanecer sereno no olho do furacão. Ou um simples "tanto faz" pra tudo, o que é bem pior. Mais que isso, me assustar por não ter a reação mais teatral, de berrar, chorar e ficar louca de raiva, e transparecer pras pessoas que na verdade eu fiquei de cara sim, pra que ninguém pense q eu sou louca e não senti que o esforço foi em vão. Quem diria! No fundo falso tenho uma Helena surpresa em não se apavorar. Na frente falsa, a Helena mostrando que fez um monte de coisa e "nossa! não deu certo, que droga!". E na realidade, não tem nada não, é só uma composição maluca pra uma aula, e que se não ficar boa o suficiente, não é q eu seja incapaz, mas que talvez eu não tenha me aplicado tanto. Só to assustada com essa música do Arnaldo Antunes tão real dentro de mim... "socorro alguém me dê um coração, que esse já não bate nem apanha, por favor, uma emoção pequena, qualquer coisa que se sinta".
*clap* *clap* *clap*
ResponderExcluirvocê tinha que morar no rio. acho que aqui composições malucas sairiam mais fácil que gás carbônico do pulmão...